12.6.08

@ Falar e escrever: dois caminhos diferentes a seguir?


Fala X Escrita


Por volta dos seis anos de idade a criança domina a língua oral e vai iniciar, nessa época, o aprendizado da leitura. Entretanto, se o desenvolvimento da fala ocorre de maneira natural, o da escrita será resultado de uma aprendizagem explicita.
O bebê possui competências naturais que lhe permitem aprender a falar. Essas competências são “ativadas” no contato com o meio social que o cerca. Consequentemente, ele vai compreender e verbalizar a fala sem ter necessidade de um conhecimento prévio sobre as estruturas ou regras que compõem a língua oral.
De maneira diferente se dá o desenvolvimento da língua escrita, pois que esta é uma criação do homem.

A língua escrita: uma reflexão sobre a língua oral?


A aprendizagem da língua escrita em um sistema alfabético necessita do tratamento consciente e voluntário dos componentes da fala. Enquanto que uma criança não alfabetizada trata a língua oral de maneira natural e intuitiva, o pequeno aprendiz da leitura será levado a tomar a fala como um objeto de reflexão e análise, o que torna a aprendizagem da língua escrita mais custosa.

Sobre o que a criança alfabetizada deve então refletir?


O momento de ler e de escrever é o momento de refletir sobre algo que foi feito até então de maneira intuitiva. A criança inevitavelmente vai apoiar-se na oralidade nesse início da aprendizagem da língua escrita, mas, para que haja desenvolvimento, ela deve pouco a pouco perceber as particularidades de cada um desses sistemas lingüísticos.
O aluno então deverá se tornar consciente de que:
-A frases faladas são formadas por palavras e, ao escrever, essas palavras devem estar separadas uma da outra;
-Cada palavra é formada por sílabas e estas por fonemas - aqui entra a “Consciência Fonológica”, bastante citada nas literaturas sobre dislexia.
-As sílabas e os fonemas, se tiverem sua ordem alterada, mudarão toda a palavra;
-Alguns sons da fala são representados graficamente sempre da mesma maneira, já outros poderão ser representados por vários símbolos gráficos diferentes – a criança deverá escolher, entre essas várias possibilidades, a “boa”, ou seja, aquela que é adequada para a palavra a ser escrita;
-Ao contrário, algumas letras podem ganhar sons diferentes dependendo do contexto em que são utilizadas. Nesse caso, será durante a leitura que a criança perceberá que o “s” de “casa” e de “sapo” são pronunciados diferentemente;
-A entonação, a comunicação corporal, enfim, as diversas pistas transmitidas durante a fala, terão que ser representadas na escrita através de frases bem elaboradas e pontuações.

A Consciência Fonológica:


A leitura e a escrita vão exigir da criança um nível de atenção não exigida durante a fala. De todos os itens mencionados anteriormente, a Consciência Fonológica é o assunto do momento. Na França, por exemplo, a lei educacional exige que seja realizado um trabalho visando o desenvolvimento da linguagem dos pré-escolares e, no interior desse trabalho, encontramos o item 4.4 denominado “Tomar consciência das realidades sonoras da Língua” cuja tradução segue abaixo:

“O sistema da escrita alfabética se funda essencialmente na relação entre as unidades distintivas da linguagem oral (fonemas) e unidades gráficas (grafemas). Uma das dificuldades de aprendizagem da leitura reside no fato de que os constituintes fonéticos da linguagem são dificilmente percebidos pela criança pequena. Consequentemente, a criança trata os enunciados que lhe são dirigidos de maneira a compreender seu significado e sem analisar seus constituintes. É então conveniente lhe permitir escutar de outra maneira a fala dos outros e a sua própria, levando a criança a prestar atenção nos aspectos formais da mensagem.”

“Sabe-se que a poesia trabalha os constituintes formais, ritmos e sons, assim como com os significados. É por essa via que nós podemos introduzir as crianças a uma nova relação com a linguagem: cantigas, músicas, poesias, trava-línguas (...).”

“(...) A sílaba é um ponto de apoio importante para aceder às unidades sonoras da linguagem. Encontrar as sílabas que constituem um enunciado é o primeiro passo para tomar consciência quanto aos fonemas da língua. Nós chamaremos atenção para o fato de que as sílabas existem na fala e, segundo a maneira como nós as recortamos, os enunciados formados serão diferente. Uma das maneiras mais simples de fazer com que as crianças sintam as sílabas é ritmar os enunciados com batidas de mãos, por exemplo. Isso pode ser feito naturalmente durante uma canção e muito facilmente nas cantigas e poemas (...). De uma maneira geral, todas essas atividades devem ser curtas, porém, freqüentes, fazendo parte dos jogos ou dos momentos dedicados às atividades de educação artística.”
(Bulletin officiel de l’éducation nationale hors série n.1 du 14 février 2002)

Referências Bibliográficas:
▪DELAHAIE, M. L’évolution du langage chez l’enfant: de la difficulté au trouble. Paris: Inpes, 2004.
▪MINISTERE DE L’ÉDUCATION NATIONALE:
http://www,education.gouv.fr/bo/2002/hs1/default.htm. Acesso em 18 agosto 2007.
▪ZORZI, J.L. Aprendizagem e distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e educacionais. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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