"Para adultos!" Foi essa a resposta da vendedora quando lhe mostrei um exemplar do livro e perguntei se era romance. Não me recordo se eu estava com meus filhos do lado para que a resposta dela fosse tão enfática. Ou vai ver pensou que eu teria a intenção de presentear alguma jovem. Porque, certamente, não passo mais por menor de 18 anos há boooooons anos... (décadas?!), mas isso não vem ao caso.
A questão é que eu estava indo na direção do meu estrogonofe de nozes preparado pelo restaurante Cassiano e precisava de um livro para me acompanhar ao paraíso. Passei por esse título convidativo, essa capa hipnotizante... IRRESISTÍVEL!!!! Nunca, jamais, um livro me ganhou pela capa. Mas esse: folhas alaranjadas de outono no hemisfério norte, livraria, aroma de canela (não tem de verdade não, mas a gente chega a imaginar que sim)...
Uma capa tão fofa e delicada que engana. Realmente é bom avisar, pois não parece, nem de longe, que a canela dá lugar à pimenta em algumas páginas.
Dizer que a história é incrível? Não é!
Dizer que deixa aquela tristeza quando acaba? Também não!
Mas surpreende sim. Faz pensar sim. Gostei sim e quero comprar o outro da coleção.
É um romance de pessoas um pouco mais maduras do que sugere a capa com seu jeitinho de papel de carta.
Hazel, uma gerente de livraria, percebe o quão sem graça tem sido sua vida. Para piorar, seu aniversário de 30 anos se aproxima.
Noah, um rapaz de 25 anos que se encanta por Hazel e não compreende a si próprio, já que a moça tem um padrão de beleza simples e inteligente, completamente diferente do que costuma procurar nas muitas mulheres com quem sai.
Hazel começa a encontrar livros rasurados, sublinhados e com páginas dobradas. Percebe se tratar de pistas deixadas para ela. Decidida a descobrir a origem dessas pistas e de viver uma aventura antes de seu trigésimo aniversário, pede ajuda a Noah.
Desfecho previsível e nada surpreendente. Obviamente eles se relacionarão!
O que foi surpreendente foi a minha postura de leitora. Num determinado momento, eu, logo EEEEEUUUUUU, cheguei a pensar que os dois não precisavam ficar juntos para que a história desse certo.
Hazel e Noah passaram por transformações pessoais tão intensas, tornando-se como dizem por aí, a melhor versão de si mesmo, que nem era necessário que seguissem como um casal.
Ambos iniciaram a busca pelo autor das pistas trazendo em sua bagagem um histórico de autossabotagem, autodestruição e autodepreciação. Tudo isso e mais um pouco.
Hazel, vivendo uma ligeira crise dos 30, olha para trás e só vê monotonia e falta de cor - exatamente como ela se enxerga. Julga-se incapaz de ser desejada, amada, colocada como prioridade na vida de alguém.
O romance com Noah a tocou profundamente, fazendo com que descobrisse suas habilidades e seus próprios gostos pessoais. "A conclusão que havia chegado (...) Ela não precisava de uma nova vida, não precisava ser uma nova pessoa. Só precisava olhar para si mesma, para a vida que tinha, com uma nova perspectiva."
"- Não precisava de mim para ajudar você a descobrir nada disso." - colocou Noah.
Noah, por sua vez, contrariou a família anos atrás, optando por abandonar os estudos e seguir sua própria vida. Na realidade, suas decisões foram sim equivocadas , já que foram baseados em crenças limitantes e sabotadores do tipo não posso, não sou capaz, é melhor fugir. Ele nunca foi capaz de bancar suas escolhas porque não foram conscientes e racionais, portanto, não havia como justificá-las.
Mas, junto às suas más decisões, somaram-se culpa e ainda mais sabotadores.
"- Não sei o que você anda contando para sim mesmo sobre todo mundo estar bravo com você ou decepcionado ou sei lá o quê. Só o que a gente quer é te ver."- Essa fala da irmã de Noah me tocou muito. O rapaz não era capaz de perceber a saudade da família porque suas crenças limitantes formaram um escudo, não deixando que essa onda de amor o atingisse.
No entanto, o percurso vivido com Hazel, fez com que o rapaz tivesse alguns insights:
"Noah achava que era a voz do pai dele, mas, nos últimos tempos vinha percebendo que soava muito mais como ele mesmo."
"Se alguém tivesse lhe dito um ano antes que ele estaria devorando livros (...) Noah jamais teria acreditado."
Ele também passou a ver a vida com mais otimismo e verdade:
"- Eu confio em você. Mas é que tem muitas maneiras das coisas darem errado". - disse Hazel.
"- É verdade, mas pense em todas as maneiras em como as coisas podem dar certo." - respondeu Noah.
Estão vendo? Esse é o primeiro romance que não fiz questão do felizes para sempre, porque sabia que eles estariam felizes para sempre mesmo que separados.
Mas, sim. Ficaram juntos.
E para fechar com chave de ouro de um trilhão de quilates, Noah ouviu do pai aquela frase que TODO MUNDO SONHA OUVIR:
"- Estou orgulhoso de você!"
